1 de setembro de 2014

MULHERES CASADAS COM MULHERES DIZEM NÃO AO PRECONCEITO

"Babilônia", próxima novela das 9, trará relação de amor entre duas mulheres na terceira idade vividas pelas atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. - 1 (© Foto: Alex Carvalho TV Globo)

O beijo gay já nem é mais inédito na TV. Na novela 'Em Família', as personagens de Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller) protagonizaram o romance bissexual na história de Manoel Carlos. Em 'Amor à Vida', Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) deram o primeiro beijo gay entre homens em novelas na TV aberta. A nova novela das 9 da TV Globo, 'Império', quebra mais uma barreira ao mostrar o ator José Mayer como um homem casado, que ama sua mulher, mas que mantém uma relação com outro homem às escondidas.

A abordagem do tema não para por aí. A próxima novela das 9, 'Babilônia', que sucederá 'Império', trará um romance gay na velhice interpretado pelas octogenárias atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. As duas experientes atrizes prometem surpreender o público ao mostrar o amor entre duas mulheres na terceira idade. 'Já estou avisando que a gente vai se beijar', contou Fernanda em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo.

No entanto, mesmo com o tema discutido no horário nobre da televisão, ainda são muitas as mulheres que sofrem preconceito. 'Errado' foi a exata expressão que acompanhou a adolescência inteira de Tatah (ela prefere preservar o nome). O erro? Gostar de meninas. 'Quando era nova [a relação entre mulheres] era considerada totalmente errado, principalmente por causa da igreja. Imagina uma adolescente de 15 anos com sonhos, vontades e que chegava ao culto de domingo à tarde com o pastor pregando justamente que aquilo era pecado? Chorava o culto inteiro. Por causa disso acabei ficando com várias caras para ver se essa vontade sairia, como se fosse uma doença', diz Tatah, 23 anos, hoje casada há três anos com Gabs (nome também fictício).

O deslocamento por achar que sentia um desejo 'errado' a acompanhou até quando ela, num curso de Mecânica Industrial, terminou com o namorado na época e teve a primeira relação com uma menina. 'Foi muito legal! Compensou toda aquela falta que eu tinha. Pensei: puxa, é disso que eu gosto! Foi um primeiro passo para eu ter coragem. Mas ainda foi uma fase de boa bagunça e confusão na minha vida ao ainda entender que aquilo era errado', afirma.

Foi com o objetivo de refletir e compartilhar experiências bissexuais que Amanda Camasmie, de 29 anos, criou o blog 'BlogSouBi' (www.blogsoubi.com). Os primeiros posts tiveram mais de 400 comentários de homens e mulheres que nunca haviam falado sobre seus verdadeiros desejos com ninguém. Ela explica que a proposta no blog não é falar tanto de sexo. A ideia é refletir sobre comportamentos, confusões e muitas histórias.

'O que é mais rico no blog são as histórias que as pessoas contam querendo opiniões dos leitores. As pessoas não devem mais enxergar as relações homossexuais ou bissexuais dessas maneiras pejorativas. Está na hora de começarmos a falar mais de sentimento e na complexidade do ser humano em relação à sexualidade. Criei o blog exatamente para compartilhar minhas experiências, para entender o que as outras pessoas sentiam e para que pudessem se abrir sem medo de reprovação', conta Amanda.

Hoje são quase 25 mil acessos mensais e 90 mil páginas vistas, além de uma média de 100 e-mails por mês. As mulheres são as que mais visitam o blog, com muitas mandando e-mails pedindo dicas, perguntando o que fazer para conseguir conquistar uma mulher, entre outras questões. Muitas pessoas, revela Amanda, não têm coragem para viver um grande amor por conta do preconceito, da religião e da família.

'Teve uma mulher que me escreveu 64 páginas com sua história. Há um casal que entra sempre no blog, faz declarações de amor uma para outra, mas não vivem a relação porque uma delas é casada e não pode terminar o relacionamento por uma série de questões. E, então, elas ficam fantasiando sobre como seria a relação delas se um dia se concretizasse. Muitas mulheres ainda sofrem por não poderem viver o que elas realmente gostariam. Esses dias mesmo eu recebi o e-mail de uma mulher dizendo que estava arrasada porque a namorada terminou com ela por conta da família e da religião. E ela contou que já tinha feito o mesmo erro com a menina, mas depois voltou na decisão e percebeu que tudo o que diziam sobre pecado não fazia sentido', observa Amanda.

Amanda conta que recebe, inclusive, e-mails de homens que descobriram que as esposas acessavam o blog e queriam entender a razão. 'Em nenhum momento foram agressivos. Será que elas estavam insatisfeitas? Eles queriam saber o que poderiam fazer para entender a esposa. Teve um homem certa vez que começou a entrar diariamente no blog com comentários fortes e agressivos. Estava chateado porque tinha levado um fora da mulher que amava. Ela não o havia trocado por outra mulher, mas mesmo assim ficou com ódio de todas as mulheres. Depois de algum tempo se arrependeu e pediu desculpas. Acho que muitas críticas e xingamentos, na verdade, são problemas internos das pessoas que elas não conseguem resolver', analisa a blogueira.

Para o psicólogo e psicoterapeuta Klecius Borges, especializado no atendimento a homoafetivos e suas famílias e autor do livro 'Muito Além do Arco-Íris' (Edições GLS), a identidade sexual varia bastante e é composta por vários componentes. Para definir homossexualidade é preciso levar em consideração os conceitos de identidade sexual, orientação sexual e comportamento sexual. 'Quando você define uma identidade gay você define, na verdade, a predominância do desejo/afeto por pessoas do mesmo sexo e quando você se refere a uma identidade bissexual você fala não necessariamente de predominância, mas da existência de desejos e afetos por pessoas do mesmo sexo', explica.

Assim, uma pessoa heterossexual não escolhe ser heterossexual. Ela se percebe naturalmente atraída por pessoas do sexo oposto. O homossexual se percebe naturalmente atraído por pessoas do mesmo sexo. Não é uma escolha. 'Uma mulher, por exemplo, que teve uma vida heterossexual, casou, teve filhos e um dia se apaixona por outra mulher e passa a viver uma relação homossexual, ela pode não querer se identificar como lésbica e dizer que, na verdade, é bissexual porque, antes, viveu uma relação hetero. Outra pessoa de fora pode olhar e entender que essa mulher é homossexual. A identidade só o próprio indivíduo pode definir qual é. A sexualidade é uma expressão natural e não uma escolha', afirma Klecius. (MADSON MORAES)

Fonte: http://estilo.br.msn.com/tempodemulher/amor-e-sexo/mulheres-casadas-com-mulheres-dizem-n%C3%A3o-ao-preconceito#image=1

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