27 de julho de 2011

"Mulheres invisíveis"


Vídeo documentário produzido pela Sempreviva Organização Feminista (SOF), com apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) abordando o tema das mulheres e o mercado de trabalho.

25 de julho de 2011

De Lobas

“Mulheres que Correm como Lobos”, da Clarissa Pinkola Estes, me foi presenteado por Renée, num dos raros encontros que tivemos, por alguma razão que não lembro. Talvez nem houvesse motivo para isso. Talvez só faça sentido agora, após sua silenciosa partida. Ainda vou descobrir.

Diz a autora do livro que “lobas e mulheres saudáveis têm certas características psíquicas em comum: percepção aguçada, espírito brincalhão e uma elevada capacidade para a devoção”. “São gregárias por natureza, curiosas, dotadas de grande resistência e força”. Produtivamente intuitivas, determinadas, corajosas e amorosas. E, tendo a alma selvagem, “respeitam seus ciclos de vida, o seu lado mais primitivo, a sua espiritualidade”. Também são capazes de enfrentar seus próprios medos e sobreviver às suas próprias fantasias infantis acerca dos relacionamentos e da maternidade. Mas alerta: “as raízes femininas mais interiores – a intuição e a criatividade – estão sendo trocadas por moedas de menor valor”.

Como contraponto, transcrevo a declaração de Shakira: “La Loba, is La mujer de nuestro tempo... La mujer que sabe que quiere y ES libre de prejuicios y nociones preconcebidas... que defientes como um animal selvaje”.

É evidente que a mulher deixou de ser a Chapeuzinho Vermelho. Já não foge do lobo mau. E nem mesmo a vovó é a mesma. Ao invés de ficar esperando por bolinhos de chuva na cama, vai à luta, chova ou faça sol. A mulher do século XXI tem consciência de que faz parte da matilha e se arvora para ampliar seu território.

Mas nem por isso nossas ancestrais são menos lobas. Os caminhos que hoje percorremos já foram trilhas íngremes, abertas por elas a facão. E, embora atreladas ao universo masculino, marcam seu espaço parindo e cuidando dos seus filhotes por anos a fio, até o relógio biológico anunciar o fim da vida fértil. E resistiram bravamente ao trabalho a que eram submetidas, sem pôr em risco a alma feminina, selvagem na essência.

Lobas estão em todo lugar: nas escolas, nas fabricas, nos elevadores, nos escritórios, nas estradas, em casa, nas igrejas, nas quadras, nos campos, no chão, no as, no mar... e, mais recentemente, em altos patamares da política. Estão ai a presidente Dilma, suas ministras sociais e sua chefe de gabinete que, por sinal, acabou de substituir um homem. Estão ai Tarja Halonen, da Finlândia; Mary McAleese, da Irlanda; Cristina Kichner, da argentina; Pratibha Patil, da Índia; Dália Grybauskaite, da Lituânia; Dóris Leutheard, da Suíça; Ellen Johnson Sirleaf, da Libéria; Laura Chinchilla, da Costa Rica; Ângela Merkel, da Alemanha; Cheija Hasina Wajed, de Bangladesh; Johanna Sigurdardottir, da Islândia; Jadranka Kosor, da Croácia; Yulia Timoshenko, da Ucrânia.

Lobas não buscam o enfrentamento. Elas correm ao lado dos lobos, perseguindo seus sonhos, embaladas mais pelos sentimentos do que pela razão. Lobas convivem com lobos. Não com coiotes, cachorros e chacais.

Escrito por: Denise da Ré
Publicado: Jornal Semanário

18 de julho de 2011

Marcha das P...

Maria Berenice Dias*


Bem assim: a letra "p” e reticências.

Esta era a forma utilizada por todos os meios de comunicação para identificar as mulheres que, simplesmente, assumiam o livre exercício de sua sexualidade. Seja profissionalmente, mediante remuneração; seja pelo só fato de se vestirem de uma forma considerada inadequada, deixando exposta alguma parte do corpo que poderia revelar que se tratava de um corpo feminino.

Inclusive houve época que eram assim rotuladas as mulheres que saiam do casamento por vontade própria. Nem importava a causa. Separadas e desquitadas eram consideradas “p...”. Mulheres disponíveis que qualquer homem tinha o direito de “usar”.

Claro que muitas coisas mudaram. E não há como deixar de prestar tributo ao movimento feminista que, em um primeiro momento, gerou tamanha reação que convenceu até as mulheres que não poderiam ser ativistas, o que as identificaria como mulheres indesejadas. Talvez pelo absurdo de reivindicarem as mesmas prerrogativas dos homens.

É significativo constatar que ao feminismo não se atribuía adjetivações ligadas à prática sexual. Ou seja, as feministas

eram mulheres feias, mal-amadas, lésbicas, mas não eram chamadas de “p...”. Eram mulheres que homem nenhum quis. Por isso saiam às ruas em busca de igualdade.

De qualquer modo, um movimento tão significativo que mudou a feição do mundo, a ponto de se dizer que o século 20 foi o século das mulheres.

Apesar dos avanços em termos de igualdade de oportunidades no mundo público, na esfera privada ainda é longo o caminho a percorrer. Basta atentar à violência doméstica cujos assustadores números só recentemente vem sendo revelados graças à Lei Maria da Penha.

Mas há outra violência que somente agora está levantando o véu da impunidade: a violência sexual. Como a virilidade é reconhecida como o maior atributo do homem, o livre exercício da sexualidade, sempre foi um direito ao qual as mulheres precisam se submeter. Inclusive ainda se fala em débito conjugal e tem gente que acredita que o casamento se “consuma” na noite de núpcias, e busca anulá-lo sob o absurdo fundamento de que o casamento não ocorreu.

O controle da natalidade é outro exemplo da absoluta irresponsabilidade masculina. Até hoje se atribui à mulher o encargo de prevenir a gravidez. É sua a culpa pela gestação indesejada. É ela que precisa fazer uso dos meios contraceptivos, em face da enorme a resistência dos homens ao uso de preservativos.

Ou seja, as mulheres sempre tiveram que se submeter ao “instinto sexual” masculino. Algo que parece dominar a vontade do homem que se torna um ser irracional, que não poder ser responsabilizados pelos seus atos. As mulheres são culpadas por excitarem os homens, que viram bestas humanas e não merecem responder por seus atos. Por isso, nos delitos sexuais, o comportamento da vítima é invocado como excludente da criminalidade.

Até que enfim as mulheres estão se dando conta de que submissão e castidade não lhes servem mais de qualificativos. Não são atributos que lhes agrega valor. Têm o direito de agirem, se vestirem e se exporem do jeito que desejarem. Não podem ser chamadas de putas, vadias, vagabundas, adjetivos que só servem para inocentar os homens que as estupram.

Vislumbra-se um novo um novo momento, em que as mulheres passam a ter orgulho de sua condição de seres sexuados. A Marcha das Vagabundas, que está acontecendo no mundo todo, é uma bela prova. Reação à afirmativa de um policial, em uma universidade de Toronto, Canadá: as mulheres devem evitar se vestirem como “slut” para não se tornarem vítimas. A expressão que pode se traduzido por vadia, vagabunda ou puta.

Depois que nos tornarmos sujeitas de nossos direitos, é chegada a hora de assumirmos a condição de senhoras de nossos desejos.


* Maria Berenice Dias é advogada do Rio Grande do Sul especializada em Direito Homoafetivo, Direito das Famílias e Sucessões.

1 de julho de 2011

Projeto Loba


Apoiada na representação da coragem, astúcia e determinação da Loba Romana, desenvolvemos o Projeto LOBA do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, escolhendo a LOBA como nosso símbolo da luta pelo fim da violência contra a mulher, o símbolo dos direitos humanos das mulheres.

Queremos com este projeto destacar a liberdade que cada mulher tem de fazer suas escolhas, e a coragem de enfrentar seus medos e defender seus direitos e desejos com “ unhas e dentes “ Como nos diz : Clarice Lispector: “ Eu sou mansa, mas minha função de viver é feroz”. Para Denise da Ré, lobas correm ao lado dos lobos, perseguindo seus sonhos. “Lobas não convivem com Lobos. Não coiotes, cachorros e chacais“.

Esperamos que a comunidade de Bento Gonçalves, homens e mulheres, nos acompanhem neste exercício de liberdade, não aceitando a dominação de uns sobre outros, permitindo a si e ao outro/a fazer da vida uma obra de arte.

Vinte lobas em fibra de vidro foram disponibilizadas pelo Conselho, pelo preço de custo, para que pessoas físicas e jurídicas realizem um trabalho de arte e personalização, fazendo de cada Loba uma obra de Arte.

Os parceiros se comprometeram a doar a obra para que se possa realizar um leilão ainda no final deste ano, cuja renda será depositada no FUMDIM (Fundo Municipal dos Direitos das Mulheres). Estes recursos poderão ser aplicados em projetos voltados para a construção da igualdade entre homens e mulheres, bem como, auxílio econômico/social as mulheres que vivenciam violência.