Produtos de limpeza se adaptam a uma era de homens 'donos de casa'
Por ELLEN BYRON
Os fabricantes de produtos de limpeza doméstica
estão observando com atenção uma importante mudança comportamental nos
lares americanos — uma nova divisão, lenta, mas constante, das tarefas domésticas, com mais homens lavando pratos, esfregando o chão e lavando a roupa.
As esposas, em tese, deveriam se alegrar. Mas, depois de várias gerações reclamando de ter que fazer a maior parte do trabalho de casa, muitas acham difícil parar de administrar tudo nos mínimos detalhes.
As fabricantes de produtos de limpeza, tendo em jogo bilhões de
dólares em vendas, estão reconhecendo que os homens — muitos dos quais
continuam subempregados na economia americana pós-recessão — também são
clientes importantes. As empresas estão remodelando seus produtos e sua
publicidade para ajudar os homens a decifrar tarefas de limpeza
desconhecidas, e dar às mulheres mais paz de espírito ao delegar essas
tarefas.
Em 2011, os homens americanos relataram que faziam, em média, 16 minutos diários de trabalho doméstico, um aumento de dois minutos em relação a 2003. As mulheres faziam 52 minutos de trabalho doméstico
por dia, em média — uma redução de seis minutos no mesmo período, de
acordo com o Escritório de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos.
Em uma pesquisa de 2011, 57% das mulheres do país disseram que querem
que seu parceiro ou cônjuge as ajude com mais frequência, de acordo com
a S.C. Johnson & Son, fabricante do Scrubbing Bubbles, um produto
de limpeza de chão, que entrevistou 1.500 mulheres e 500 homens. No
entanto, 42% das mulheres disseram que não confiam que seu parceiro ou
cônjuge consiga atingir os padrões de limpeza que elas consideram
necessários.
Este ano, a Procter & Gamble introduziu o sabão de lavar roupa Tide Pods, em parte para atender às mulheres que dizem sentir muito estresse ao delegar a responsabilidade de lavar a roupa ao marido e outros familiares. Os sachês Tide Pods, de dose única, eliminam a necessidade de despejar e medir o produto — reduzindo a preocupação de algumas mulheres de que a outra pessoa use o produto em excesso, ou muito pouco. Outro produto que ajuda a delegar tarefas é a barra Bounce, da P&G, um amaciante de tecidos que se instala na secadora de roupas e dura meses.
"A mulher fica muito nervosa pensando que outra pessoa vai lavar sua roupa, pois ela tem a sua receita especial para fazer isso", diz Shellie Porter, chefe de pesquisa e desenvolvimento para a marca Tide na América do Norte.
Hoje os homens americanos fazem, em média, quase um terço do trabalho doméstico, diz Scott Coltrane, autor, sociólogo e reitor da Universidade do Oregon. É um aumento em relação a menos de um quinto, em média, em 1965, quando as tarefas masculinas se resumiam a levar o lixo para fora e cuidar do quintal. Os dados sugerem que essas mudanças serão duradouras, diz Coltrane. "Os papéis associados a cada gênero acabam caindo quando não fazem mais sentido."
As mulheres costumam dar mais importância ao trabalho doméstico
do que os maridos porque elas são julgadas com mais severidade se a
casa estiver suja ou desarrumada, diz o autor e psicólogo Joshua
Coleman. "O estado da casa ainda pode ser algo muito ativo na identidade
de uma mulher, e isso é verdade nas mais diversas classes sociais e
níveis educacionais", diz ele.
É mais provável que uma casa desarrumada faça a mulher sentir mais
constrangimento ou vergonha do que o marido, mesmo que ele seja o
principal culpado, diz Coleman. Negociar a divisão de tarefas requer
sutileza e diplomacia por parte da mulher. "Quanto mais exigente for a
mulher sobre como a casa deve ficar e a maneira certa ou errada de
limpá-la, mais provável é que o homem se afaste da mesa de negociações
", diz ele.
A P&G lançou recentemente a campanha "Man Up, Clean Up" ("Seja
homem, limpe") para os esfregões e espanadores Swiffer. Ela exorta os
homens a assumir mais tarefas domésticas,
mas fala com as mulheres, também. "Algumas pessoas podem hesitar um
pouco em delegar tarefas de limpeza porque têm um padrão de qualidade
muito alto", diz Scott Beal, diretor associado de marketing para a
Swiffer na América do Norte. "A mensagem da Swiffer é que, não importa
quem esteja manejando o produto, o resultado será o esperado."
Este ano, os maridos estão lavando roupa em comerciais da Tide — pela
primeira vez na história da marca, de 66 anos de existência. Em um
anúncio, um pai que é dono de casa se gaba: "As roupas ficam incríveis, e
o papai — bem, ele é um herói".
"Estamos tentando refletir esse novo lar, tanto quanto possível", diz
Chris Lillich, diretor associado de marketing da P&G para produtos
de lavanderia na América do Norte. "E esses pais não são uns inúteis;
são homens de verdade, que sabem o que estão fazendo".
A Kimberly-Clark, fabricante das fraldas Huggies, informa que, segundo suas pesquisas, cerca de um terço
dos pais participa de maneira significativa, ou igual, na criação dos
filhos. "Vimos a conexão emocional que podemos conseguir com as mães
quando transmitimos esses momentos de ternura que o pai pode ter
com o bebê", diz Aric Melzl diretor da marca Huggies. Um anúncio
mostrando pais de verdade ninando seus bebês agradou também às mães.
"Internamente, chamamos este anúncio de 'fazedor de bebês'", diz Melzl.
Há mais empresas querendo garantir que os homens estejam representados nas suas pesquisas com o público geral. Hoje
os homens constituem, de modo geral, cerca de 20% das amostras, contra
zero há três anos, diz Jonathan Asher, vice-presidente executivo da
Perception Research Services, firma de pesquisas com consumidores. Os
clientes homens passam menos tempo escolhendo produtos do que a
mulheres, e fazem menos planejamento prévio. Em compensação, os homens
mostram mais lealdade à marca, diz Asher.
Bob Horwitz e sua mulher, Tami, trabalham em tempo integral e dividem o trabalho doméstico.
"Eu faço as camas, limpo o banheiro e passo aspirador de pó", diz
Horwitz, executivo de marketing de 59 anos, de Minneapolis, no Estado
americano de Minnesota. "Ela tira o pó dos móveis e cuida da cozinha."
Os dois lavam a roupa juntos aos domingos.
Horwitz diz que quando está fazendo limpeza, sua técnica é criar
pilhas de papéis e tranqueiras. "Eu odeio essas pilhas", diz sua esposa,
de 51 anos, gerente de produto de uma firma de artigos para a saúde.
"Eu passo por esses montinhos e me dá um arrepio. Mas contanto que a
limpeza seja feita, e seja bem feita, não me importo de que modo ela é
feita."
Fonte: The Wall Street Journal
http://online.wsj.com/article/SB10001424127887324640104578161684142143030.html
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