23 de dezembro de 2014

E se sua chefe dissesse quando você pode engravidar?

Engravidar é algo que pode acontecer de repente ou ser programado. Mas já pensou se outra pessoa programasse sua gravidez sem te consultar? Isso aconteceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, onde uma gerente montou uma planilha com datas em que suas funcionárias poderiam engravidar.

Segundo a reportagem da revista Marie Claire, a gerente responsável pela planilha, Janete Velten, chegou a criar uma série de regras para sua equipe. Por exemplo:

“REGRA 1: Quem não casou oficialmente ainda não pode entrar no programa (sou gerente à moda antiga).”

“Regra 2: Quem já tem um filho vai para o final da fila (sou gerente exigente, não aceito furar fila).”

Havia ainda algumas explicações no e-mail que a gerente enviou a suas funcionárias. Se duas colegas preenchessem os critérios ao mesmo tempo, o desempate se daria pelo tempo de carteira assinada. Se a escolhida não usasse sua chance de engravidar, perdia a vez e voltava para o fim da fila.

Na planilha do Excel, em verde estavam os nomes de quem poderia engravidar nos meses seguintes. Em rosa, as autorizadas a fazê-lo mais adiante. Em vermelho, as proibidas.

Assédio à maternidade

O caso – que terminou com Janete e a empresa sendo processadas – serve para ilustrar o assédio à maternidade que acontece em muitos lugares do Brasil e do mundo. Segundo o Coordigualdade, o programa de equidade de gênero do Ministério Público do Trabalho, trabalhadoras continuam sendo preteridas para promoções e viagens pelo fato de terem filhos.


Aumentar a responsabilidade do homem na criação dos bebês pode ser uma forma de combater a cultura do assédio à maternidade que ocorre em muitas empresas.

Nos EUA, a situação é ainda mais institucionalizada. Empresas como Apple e Facebook financiam o congelamento de óvulos para que suas funcionárias programem e adiem suas gravidezes.

Ainda segundo o Coordigualdade, a solução é aumentar a responsabilidade dos homens na criação dos bebês. E em alguns lugares isso já começou a acontecer. Como em Niterói, onde servidores públicos terão direito a uma licença paternidade de 30 dias.

Em São Paulo, um Projeto de Lei também prevê não só a ampliação da licença paternidade para 30, mas também uma licença de 180 dias se os pais forem solteiros ou homossexuais.

17 de dezembro de 2014

Igreja Anglicana anuncia primeira mulher que ocupará o cargo de bispo

A pastora Libby Lane sorri ao ser nomeada a primeira mulher a ocupar o cargo de bispo na Igreja Anglicana nesta quarta-feira (17) (Foto: Phil Noble/Reuters)
A pastora Libby Lane se tornou nesta quarta-feira (17) a primeira mulher nomeada para o cargo de bispo da Igreja da Inglaterra, Anglicana, ao ser nomeada para liderar a diocese de Stockport, no centro da Inglaterra.

"É uma alegria inesperada estar aqui. É um dia marcante para mim e um dia histórico para a Igreja", disse Lane, de 48 anos, após o anúncio.

Antes de pronunciar as primeiras palavras com a nova função, Lane pediu um minuto de silêncio pelas 141 vítimas do ataque dos talibãs contra uma escola do Paquistão na terça-feira (16).

Libby Lane, que toca saxofone, é torcedora do Manchester United e é casada com um sacerdote, foi nomeada um mês depois do sínodo que mudou as regras para permitir a designação. O Parlamento britânico ratificou a mudança.

A aprovação desta reforma pelo sínodo inglês não obriga as outras igrejas anglicanas a ordenar mulheres para o cargo de bispo, mas algumas já haviam se antecipado à Igreja matriz, a da Inglaterra.

A Igreja da Inglaterra, uma cisão da Igreja Católica, é a matriz da comunidade anglicana, que conta com 80 milhões de fiéis em 165 países.

Na Inglaterra, as mulheres podem ser ordenadas sacerdotes desde 1992, mas Gales, Estados Unidos, Austrália, Canadá e Suazilândia se anteciparam na ordenação de mulheres como bispos.

Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/12/igreja-anglicana-anuncia-primeira-mulher-que-ocupara-o-cargo-de-bispo.html

Cai o número de filhos por mulher e sobe o de casais sem filhos no Brasil

O número de filhos por mulher caiu 26% nos últimos 14 anos no Brasil, passando de 2,39 filhos por mulher para 1,77, entre 2000 e 2013. Junto à queda na taxa de fecundidade, aumentou o porcentual de mulheres sem filhos no país, evento que é maior entre as de pele branca, das regiões Sul e Sudeste e mais escolarizadas, segundo a SIS (Síntese de Indicadores Sociais) 2014, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada nesta quarta-feira (17) e baseada em cruzamentos de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2013.

De acordo com dados da Pnad, em 2013, 38,4% das mulheres de 15 a 49 anos não tinham filho. Entre as mulheres de 25 a 29 anos, no mesmo ano, 40,4% não tinham filho, um aumento de 24% em relação à taxa de fecundidade de mulheres da mesma faixa etária em 2004, quando 32,5% não tinham nenhum filho.

Entre as jovens de 15 a 19 anos, verificou-se que 89,3% não tinham filho em 2013; já no grupo formado pelas mulheres de 45 a 49 anos, 12,5% permaneciam sem filhos.
Nortistas e nordestinas têm mais filhos

Em alguns Estados do Norte e do Nordeste, o índice de fecundidade mostrou-se maior do que a média nacional em 2013, de 2,1 filhos por mulher. No Acre, o maior índice, foi apontado 2,59 filhos por mulher, no Amapá 2,42, no Amazonas, 2,38, emRoraima, 2,34, no Maranhão, 2,28, e no Pará, 2,20.

As menores taxas de fecundidade do país em 2013 estiveram em alguns Estados do Sudeste, Sul e no Distrito Federal.

Em Santa Catarina, o Estado com o menor índice, foi apontado 1,58 filho por mulher, no Distrito Federal, 1,59, no Rio Grande do Sul, 1,60, no Rio de Janeiro, 1,62, em São Paulo e em Minas Gerais, 1,63.
Mulher sem filho: maioria branca e escolarizada

A cor ou raça da mulher e o nível de escolaridade mostrou ter influência também no fato de não ter filho. Em 2013, entre as mulheres brancas de 15 a 49 anos, 41,5% não tinham filhos, enquanto entre as pretas ou pardas o percentual foi de 35,8%.

A diferença proporcional é ainda maior entre as mulheres brancas, comparada às negras de 25 a 29 anos. Enquanto entre as brancas a proporção das mulheres sem filho foi de 48,1%, entre as pretas ou pardas foi de 33,8%.

Em relação à escolaridade, entre as mulheres de 15 a 49 anos de idade com mais de oito anos de estudo, 44,2% não tiveram filhos em 2013, enquanto entre aquelas com até sete anos de estudo essa proporção foi de 21,6%.

A escolaridade entre as mulheres de 25 a 29 anos mostrou uma desproporção ainda maior. Entre as menos escolarizadas, 16,3% não tinha filho, enquanto entre as mais escolarizadas 45,5% não eram mães. A proporção de mulheres entre 45 e 49 anos sem filhos foi de 8,2% em 2013 entre aquelas com menor escolaridade e 15,1% entre as que tinham mais anos de estudo.
Mães jovens estudam menos

Já entre as mulheres mais jovens, as que estudavam mais tinham menos filhos do que as que estudaram por menos tempo. Entre as mulheres de 15 a 17 anos que não tinham filho, 88,4% estavam estudando; enquanto entre aquelas que tinham um filho ou mais, 28,4% estudavam, segundo o levantamento.

Entre as mulheres de 18 a 24 anos, 41,5% daquelas que não tinham filho estavam estudando, enquanto 12,7% não estudavam e não tinham o ensino médio completo, e 45,8% não estudavam, mas tinham pelo menos o ensino médio completo. Na mesma faixa etária, entre aquelas que tinham filho, somente 11,2% estudavam, enquanto 54% não iam à escola, mas tinham cursado o ensino médio incompleto, e 34,8% não estudavam e tinham pelo menos o ensino médio completo.

No grupo de mulheres com 25 a 29 anos, a proporção das que estavam estudando ou daquelas que não estudavam, mas tinham ao menos o ensino médio completo, era maior entre as que não tinham filho.
Cai número de casais com filhos

Em 2013, houve uma queda na proporção de casais com filhos no Brasil em comparação a 2004, quando o porcentual era de 50,9%. Em 2013, houve uma queda de 13,8%, passando para 43,9%.

A redução na proporção de casais com filhos na região Norte foi de 11%, inferior à observada para as demais regiões do país, o que justifica a manutenção de um percentual elevado deste tipo de arranjo familiar em 2013 (47,9%), quando comparado com a região Centro-Oeste (42,8%), por exemplo.

Embora a região Sul possua a maior proporção de famílias compostas por casal sem filho (23% em 2013 em relação a 18% em 2004) a maior variação percentual entre 2004 e 2013 ocorreu na região Norte (com atuais 17,3% ante 12,1% em 2004). O maior crescimento do Norte e Nordeste nos últimos anos, com a incorporação de novos hábitos e valores, pode ser um indicador da mudança, na visão do IBGE.

Como consequência dessas mudanças, cresceu a proporção de casais sem filhos em todas as regiões do país em 2013. Na região Nordeste, passou de 12,9% em 2004 para 17,7% em 2013; no Sudeste foi de 14,8% em 2004 para 19,3% no ano passado e no Sul passou de 18% para 23%.

Esse crescimento foi expressivo nos Estados de Roraima, Tocantins, Piauí e Minas Gerais, quando comparado com 2004, onde a proporção de casais sem filhos era inferior ao observado em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Taxa de fecundidade das brasileiras
1,77

filho por mulher

foi a média de filhos por mulher no Brasil em 2013
2,39

filhos por mulher

foi a média de filhos por mulher no Brasil em 2004
2,59

filhos por mulher no AC

em 2013, a maior taxa de fecundidade do país
1,58

filhos por mulher em SC

em 2013, a menor taxa de fecundidade do país
38,4%

das mulheres de 15 a 49

anos não tiveram filhos em 2013
41,5%

das brancas até 49 anos

não tiveram filhos em 2013
35,8%

das negras até 49 anos

não tiveram filhos em 2013
44,2%

das mais escolarizadas

de 15 a 49 anos não tiveram filhos em 2013
21,6%

das pouco estudadas

de 15 a 49 anos não tiveram filhos em 2013

Taxa de evasão escolar aumenta quando adolescentes engravidam, diz IBGE

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta quarta-feira (17) mostram que as jovens de 15 a 29 anos que têm filhos enfrentam mais dificuldade para manter seus estudos ou continuar no mercado de trabalho do que as mulheres desta idade que não têm filhos. Segundo os dados cruzados a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), 35% das brasileiras dessa idade têm pelo menos um filho. Divididas em quatro grupos, o das jovens que só estudam, das que trabalham e estudam, das que só trabalham e das que nem trabalham nem estudam, as que têm pelo menos um filho só são maioria no último caso.

Só 14,4% das mulheres de 15 a 29 anos que trabalham e estudam têm filhos. Decidar-se apenas aos estudos depois de ter um ou mais filhos parece uma tarefa ainda mais difícil, de acordo com a pesquisa. Entre as jovens dessa idade que só estudam, as que são mães respondem por apenas 7,1% do total de matrículas. Segundo o IBGE, 44% das jovens que trabalham e estudam também são mães.

Mas a mães adolescentes ou jovens representam 57,1% das mulheres de 15 a 29 anos que não têm nem um emprego nem estão estudando.

Considerando os dois gêneros, a proporção dos jovens de 15 a 29 anos que só estudavam foi de 22,7% em 2013. Já a porcentagem daqueles que trabalhavam e estudavam foi de 13%. Jovens que só trabalhavam respondiam por 44,% dos entrevistados, e, segundo o IBGE, praticamente um em cada cinco jovens nessa faixa etária não frequentava escola nem trabalhava. Entre os jovens nesta situação, 45,8% vivem no Nordeste ou no Norte.

Afazeres domésticos

Os homens de 15 a 29 anos continuam contribuindo menos para os afazeres domésticos do que as mulheres da mesma idade. Segundo o IBGE, 40,8% deles afirmaram que cuidavam de afazeres domésticos na semana de referência da Pnad. Entre as mulheres, essa porcentagem subiu para 82,4%.

Em média, as mulheres trabalham 20,2 horas por semana no cuidado da casa, mais que o dobro da quantidade média de 9,2 horas que os homens jovens dedicavam a esses afazeres toda semana.

Os homens que não trabalham nem estudam são também os que menos ajudam em casa. Segundo a Pnad 2013, só 39,3% deles cuidavam dos afazeres domésticos no ano passado. Os que mais ajudam são os homens jovens que só se dedicam aos estudos (42%).

Já entre as mulheres, entre as que têm trabalho e estudos na rotina diária, 74,6% também cuidavam dos afazeres de casa. Das que só estudam, 77,9% ajudavam em casa. As mulheres de 15 a 29 anos que só trabalham também cuidam da casa, assim como 89,2% das mulheres que afirmaram estarem fora do mercado de trabalho e da sala de aula.

Ana Carolina Moreno

Mulher no Parlamento: Brasil ocupa 123º lugar

Da diretora da escola à presidente da nação, é comum ver mulheres desempenhando papel de liderança no dia a dia. A impressão que se tem é de que as mulheres “chegaram lá”, mas, quando se avalia os dados numéricos de mulheres exercendo as funções mais elevadas na vida pública, vê-se que, na verdade, as mulheres, em sua maioria, ainda estão fora do poder. O mesmo acontece no Judiciário e no ambiente corporativo. De acordo com o ranking da representação feminina no Parlamento de 189países – feito pela União Inter-Parlamentar (IPU) conforme o porcentual de mulheres nos Parlamentos nacionais –, o Brasil está na 123ª posição. Países da América Latina como Bolívia (2º), Cuba (4º), Nicarágua (9º) e Equador (10º) estão bem à frente do País, segundo dados de novembro de 2014.

Nas eleições mais recentes, de 2014 e 2012, Suely Campos (PP-RR) foi a única governadora eleita no Brasil. Será a primeira vez que Roraima, o menor colégio eleitoral do Brasil, será comandado por uma mulher. Esse resultado faz parte de um universo de 22.168 candidaturas para as eleições ocorridas em outubro deste ano. No cômputo geral, os porcentuais ficaram próximos ao exigido pela legislação, que é de pelo menos 30% para um dos gêneros. Ocorre que o gênero feminino é o que sempre fica com a minoria das vagas. Neste ano, a divisão foi de 28,71% para mulheres e 71,29% para os homens. Em 2010, Roseana Sarney (PMDB-MA) e Rosalba Ciarlini (DEM-RN) saíram vencedoras.

Quando é feita a divisão por cargos, tanto entre candidaturas quanto entre os eleitos, é possível ver a discrepância entre a participação da mulher em termos populacionais e eleitorais e a sua representação no Executivo e no Legislativo. Na disputa pela Presidência da República, oito homens (72,73%) e três mulheres (27,27%) se dispuseram a participar. A diferença, nesse caso, foi que duas mulheres, Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB), estiveram durante quase todo o tempo entre os três com mais intenções de voto. Ao final, a presidente Dilma Rousseff foi reeleita. Ela entrou para a história como a primeira mulher eleita presidente do Brasil e a primeira a ser reeleita.

Dos 163 candidatos a governador em todo o Brasil, 19 (11,66%) eram mulheres e 144 (88,34%), homens. Apenas uma conseguiu se eleger. O que representa 5,26% das candidatas do sexo feminino. O total de candidaturas para senador foi quase o mesmo: 165, sendo 131 homens (79,39%) e 34 mulheres (20,61%). Como só havia uma vaga por Estado, 27 senadores foram eleitos: cinco mulheres (18,52%) e 22 homens (81,48%). A partir de 2015, o Senado passará a contar com um total de 11 mulheres. A porcentagem de candidaturas femininas ao Senado e aos governos estaduais se manteve estável nas duas últimas eleições.

A ex-deputada federal e ex-candidata ao Senado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) Marina Sant’Anna chama a atenção para o tempo reduzido de participação dos trabalhadores e das mulheres na história republicana do Brasil. Embora a eleição da primeira prefeita do Brasil e da América Latina, Luíza Alziro Soriano Teixeira, tenha ocorrido em 1928, e a posse, em 1929, as mulheres brasileiras só conquistaram o direito ao voto em 1932. Luíza Soriano ficou no cargo, em Lajes, no Rio Grande do Norte, durante sete meses. Foi destituída por não concordar com o governo Getulio Vargas.

“O Brasil está em posição de atraso em relação ao resto do mundo, mas está em condições de busca crescente para que o número de mulheres seja ampliado no contexto não só do Legislativo e do Executivo, mas também nas organizações da sociedade civil”, acredita Marina. Ela conta ter o costume de observar a composição das mesas em solenidades e eventos importantes. “Dificilmente é possível ver pelo menos um terço de mulheres nessas mesas”, diz.

Espaço da mulher aumenta devagar

O Brasil tem avançado, ainda que lentamente. Nas eleições de 2010, 45 deputadas federais foram eleitas. Neste ano, o número passou para 51 (9,95%) entre 513 escolhidos pelo eleitorado. A corrida já começou desigual no número de candidaturas. Das 5.940, 4.204 (70,77%) eram de homens e 1.736 (29,23%), de mulheres. Em Goiás, o índice é parecido. Dos 17 escolhidos para a Câmara federal, 15 são homens e duas (11,76%), mulheres.

Flávia Morais (PDT) obteve a terceira melhor votação geral, com 159.122 votos. Atrás do fenômeno de votação delegado Valdir Soares, do PSDB (274.625 votos), e de Daniel Vilela, promessa de renovação do PMDB (179.214). Magda Mofatto (PR-GO) ficou com a quinta posição, com 118.458 votos. O mesmo número de eleitas em 2010, quando Iris Araújo (PMDB) foi a mais votada (185.934). Flávia Morais conseguiu 152.553 votos. Magda Mofatto não foi eleita, mas acabou assumindo uma cadeira na Câmara, como suplente, em 2011. O mesmo aconteceu com Marina Sant’Anna (PT), que ficou como deputada entre 2011 e 2013.

Assim como acontece na Câmara, as mulheres (115) são 11% das deputadas estaduais eleitas em todo o País. O porcentual de candidaturas ficou dividido entre 10.250 homens e 4.177 mulheres (28,95%). Este ano, em Goiás, quatro mulheres (9,76%) foram escolhidas pelos eleitores, de um total de 41 parlamentares. A petista Adriana Accorsi participou de uma eleição pela primeira vez e foi a terceira melhor votada, com 43.424 votos.

Partidos têm condições de eleger governadora ou prefeita, diz petista

Na avaliação de Marina Sant’Anna, todos os partidos goianos têm condições de ter mulheres como prefeita de Goiânia ou governadora do Estado de Goiás. Algumas foram queimadas dentro dos próprios partidos. “Mas é preciso haver um pouco de mudança cultural para que isso ocorra e a redução de dependência de um líder patriarcal”, afirma.

Ela cita Adriana Accorsi (PT) como um dos exemplos no próprio partido, que obteve uma votação expressiva como deputada estadual, já na sua primeira eleição, tornando-se a primeira deputada estadual do PT.

Marina Sant’Anna comenta que, pela história e amizade das duas, nunca irão competir pelo mesma candidatura. Ela diz também que há outras mulheres capacitadas na sigla, sem citar nomes. “Ainda não começamos a tratar disso no partido, mas o nome da Adriana me agrada muito e eu estou sempre disponível para o partido”.

Estudo

Há mais de 30 anos na vida pública, Marina tem dedicado bastante tempo em observações e estudos sobre mulheres e poder. Ela listou alguns dos possíveis motivos para o distanciamento da mulher da vida pública. Um deles é a formação da maioria das mulheres, que a coloca em situação de sensibilidade diante de alguns aspectos da política como a agressividade do discurso e, principalmente, a má conduta de alguns políticos, independentemente do partido que representam.

Sem contar que, embora haja mulheres nas bases, elas não são vistas como representantes viáveis e o partido não dá oportunidade a elas. “O mesmo acontece com os jovens, à exceção de filhos de personalidades políticas, e de negros e negras. O que existe e se perpetua no poder são homens brancos, com determinado patrimônio e determinada conduta”, avalia.

Compromissos familiares ainda pesam nas decisões

O fato de a mulher continuar sendo responsável no núcleo familiar, pelos que dependem de adultos, como crianças, idosos e doentes, é outro impeditivo para a mulher aderir à vida pública, já que o seu tempo fica ainda mais reduzido. Marina Sant’Anna destaca que mesmo nos casos, cada vez menores, de mulheres que têm empregada doméstica, a situação se repete e de certa forma fica ainda pior, já que se torna cíclica. “Aquele trabalho continuará sendo realizado por uma mulher, que também tem família e também precisará de alguém em casa”, explica.

Marina acredita que, além do trabalho de atração e formação de novas lideranças nas bases dos partidos, a reforma política é fundamental no sentido de contribuir para a mulher conquistar mais espaço. Para ela, o financiamento público de campanha ou, pelo menos, a retirada das empresas do financiamento de campanha, já ajudariam, pois o poder econômico de algumas candidaturas deixaria de ter tanta relevância.

“Para as mulheres, jovens, negros, homossexuais que queiram também ser representantes públicos é importante demais ter algum tipo de lista partidária, que possibilitaria que o financiamento de campanha seja colocado a serviço de todos”, defende a ex-deputada.

A paridade de gêneros é outro ponto que ela acredita ser importante. “Nós somos 52% da população e do eleitorado. Significa que deve ter em uma lista uma mulher, um homem, e assim por diante. Tenho certeza de que não haverá dificuldade em encontrar uma mulher preparada, pois elas existem em todos os lugares, embora muitas não queiram fazer parte desse jogo do sistema eleitoral existente”, diz.

Menos de 5% dos cargos em empresas

Assim como acontece no Legislativo, o número de mulheres a ocupar os cargos principais em empresas é reduzido no Brasil. Inferior a 5%, segundo a presidente da Associação Comercial e Industrial do Estado de Goiás (Acieg), Helenir Queiroz. Mas ela vê o cenário com otimismo. “Cerca de 15 anos atrás era traço (quase inexistente)”, afirma. A empresária se tornou a primeira mulher a presidir a Acieg em 78 anos de existência da entidade classista. Ela também é a primeira a presidir o Fórum Empresarial de Goiás.

“Tenho 62 anos. A minha geração foi educada para ficar em casa”, diz a empresária, para quem esses avanços tendem a ser cada vez mais rápidos. Para Helenir, quanto mais a sociedade amadurece e evolui, maior e mais relevante é a participação da mulher.

A líder classista alerta, no entanto, para um problema comum a muitas mulheres: a culpa que sentem por se ausentar do lar para trabalhar. “Essa é uma questão cultural, uma espécie de freio psicológico. A mulher não precisa escolher entre o crescimento profissional e a maternidade. Há tempo para tudo e dá tempo de fazer tudo”, conclui.

Versanna Carvalho

Em 30 anos, aumentou em 230% o número de mulheres assassinadas no Brasil, diz ONU

Profissionais de segurança pública e de polícia se reuniram em Brasília na última semana para discutir os assassinatos de mulheres no Brasil. O encontro de dois dias foi promovido pela ONU Mulheres, pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR) e pelo Ministério da Justiça.

O principal objetivo do evento, realizado entre os dias 09 e 10 de dezembro, foi debater a adaptação do Modelo de Protocolo Latino-americano para Investigação das Mortes Violentas por Razões de Gênero, proposto pela ONU Mulheres e pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) no marco da campanha do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, “Una-se pelo fim da violência contra as mulheres”.

“Os crimes de feminicídio têm devastado o Brasil. São praticados com requintes de crueldade e terror pela carga de ódio, na sua grande maioria, quando as mulheres decidem dar um basta numa relação. Elas são interpeladas do direito de decidir sobre as suas vidas, com quem vão se relacionar e a maneira como a relação afetiva vai terminar’, disse a representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman.

Mais de 92 mil mulheres foram assassinadas no Brasil entre 1980 e 2010 – o que representa um aumento de 230% no número de mortes femininas por questões de gênero neste período. Atualmente, 5 mil mulheres são assassinadas ao ano no país, que ocupa o 7º lugar no ranking internacional de 84 países sobre esse tipo de crime.

Os especialistas presentes na reunião ressaltaram a importância do protocolo de investigação de mortes violentas femininas por razão de gênero para aprimorar os processos de perícia, de investigação e de penalização no Brasil, uma vez que vai oferecer diretrizes para a identificação e a compreensão das ações de violência que correspondem aos crimes de gênero.

Além disso, a tipificação do feminicídio como qualificadora do assassinato de mulheres no Código Penal já foi proposta por meio de um projeto de lei em tramitação no senado brasileiro, uma das 68 recomendações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência contra a Mulher no Brasil.

Tarefas de casa ocupam 88% das mulheres e 46% dos homens, diz IBGE

Os afazeres domésticos são encargo para 88% das mulheres de 16 anos ou mais com trabalho, de acordo com estudo do IBGE divulgado nesta quarta (17), dentro da Síntese de Indicadores Sociais. Já a taxa de homens nessas condições é bem menor: 46%.

A jornada média, entre tarefas da casa e o emprego, é de 56,4 horas por semana entre as mulheres, o que representa cinco horas a mais em relação aos homens que se ocupam dos dois compromissos.

Mulheres ganham menos

As mulheres, em média, recebem menos que os homens em todas as formas de ocupação. A desigualdade se acentua nos trabalhos informais: ganham 65% do rendimento que têm os homens sem carteira assinada. No trabalho formal, a proporção é de 75%.

Mas a diferença vem diminuindo. Entre 2004 e 2013 melhorou o rendimento das mulheres com trabalho informal, o que contribuiu para a redução da desigualdade entre sexos.

Mulheres com até oito anos de estudo ganham 90% do que recebem homens no mesmo patamar de escolaridade. Acima dos oito anos de estudo, a relação cai para 71%. Considera 12 anos ou mais de estudo, o rendimento-hora das mulheres é 66% dos homens.

11 de dezembro de 2014

Para líderes partidárias, só reforma aumentará participação política das mulheres

As lideranças femininas dos partidos avaliam que, sem a reforma política, as mulheres dificilmente vão alcançar uma representação de 30% na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, mínimo exigido por lei. Elas concordam, no entanto, com que houve avanços nos últimos anos. A avaliação foi feita durante o Fórum Nacional de Instâncias de Mulheres de Partidos Políticos, realizado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR) nesta terça-feira (09/12), em Brasília. 

O evento, organizado pela Secretaria de Articulação Institucional e Ações Temáticas da SPM, foi aberto pela ministra da SPM Eleonora Menicucci e contou com a participação de integrantes das instâncias partidárias, da Secretaria da Mulher e da bancada feminina da Câmara dos deputados e da Procuradoria da Mulher do Senado. A ministra informou que está enviando carta aos governadores eleitos e reeleitos na qual defende a importância de, conforme o caso, manter ou criar uma secretaria da mulher na gestão estadual.

As representantes das instâncias partidárias também vão defender a proposta junto aos governadores de seus partidos. A gestão do programa Mulher, Viver sem Violência é partilhada com os estados.

Baixo crescimento –Liège Rocha, do PCdoB, afirmou que as cotas de 30% para candidaturas de mulheres (exigência da legislação) não bastam, devido ao machismo no Brasil. “Apesar do número de candidatas inscritas, não houve o crescimento esperado”, observou. Foram eleitas 51 deputadas federais. A bancada atual na Câmara dos Deputados é composta por 47 mulheres. No Senado, foram eleitas cinco senadoras, elevando o número de mulheres para 12, que representam 18,5% da composição.

Coordenadora da bancada feminina na Câmara dos Deputados, Jô Moraes (PCdoB-MG), declarou que o avanço feminino no Congresso Nacional não correspondeu às conquistas de políticas públicas para as mulheres, ocorridas nos últimos anos. Ela citou como exemplo as iniciativas de combate à violência contra as mulheres. A parlamentar reeleita alerta que as lideranças têm desafios pela frente: “É preciso cobrarmos do prefeitos que não devolvam recursos destinados à construção de creches”, afirmou.

Integrante do PPS, Tereza Vitale disse que o estatuto do partido prevê ocupação de 30% de mulheres em suas instâncias, e que sua agremiação elegeu duas deputadas federais. “Mas o partido não investiu nessas candidaturas. Foram elas que se viraram”.

Fundo partidário –Tereza Vitale acrescentou que as cotas deram um impulso muito grande nas candidaturas femininas, mas que 5% do fundo partidário para investimento nas mulheres é baixo. Tanto ela, quanto Laisy Moriere, do PT, Liège Rocha, Jô Moraes, Alda Marcantônio –eleita deputada federal pelo PSB de São Paulo– e Ericka Nogueira, do PMDB, defendem a reforma política como instrumento necessário à elevação do número de mulheres com vitórias nas eleições.

Ericka Nogueira contou que seu partido já começou a discutir a reforma política em todos os estados, inclusive contratando consultores. Mas quando as lideranças femininas do PMDB começaram a participar, descobriram que a questão de gênero não estava colocada nas propostas em debate

Comunicação Social
Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM
Presidência da República – PR

http://www.spm.gov.br/noticias/para-lideres-partidarias-so-reforma-aumentara-participacao-politica-das-mulheres

ENTRE MARIAS, CLARICES E KARINNYS. VIOLÊNCIA E DESIGUALDADES DE GÊNERO.

Na história da humanidade, os papéis sociais e sexuais separaram homens e mulheres. Homens assumiram papéis de comando e se tornaram provedores e patriarcas: senhores da sociedade e de suas famílias. Às mulheres sobraram papéis secundários, obediência, recato e repressão.

Esse modelo de sociedade patriarcal se estruturou sob o silenciamento da mulher, a violência e a desigualdade de gênero. O resultado é que foram produzidas variadas formas de violência que se estruturaram nesse modelo de patriarcalismo, configurado no aprendizado da submissão e da ordem estabelecida: nas brincadeiras de crianças, no trabalho doméstico, na dupla moralidade em que se estruturou a sociedade machista.

Aos homens, tudo foi permitido: ter mulheres e amantes, constituir famílias fora do casamento, convidar e trazer mulheres para seus relacionamentos. Porém, os preconceitos respingavam sobre as concobinas, as amantes e os filhos nascidos fora do casamento, nada colava no homem. Um modelo de cultura perversa e autoritária que justificou inclusive o crime praticado contra mulheres em caso de adultério feminino.

Assim, a violência contra a mulher foi banalizada, pois um homem que matava sua mulher adultera apenas lavava e limpava a sua honra. Em pleno século XXI muitas mulheres continuam sendo assassinadas e perseguidas, mesmo que não se use mais a tese de legítima defesa da honra. Novos homens, herdeiros do machismo e do autoritarismo dos velhos coronéis, continuam intimidando, perseguindo, buscando destruir a imagem das mulheres que não mais se submetem aos seus domínios e interesses privados.

A violência física, psicológica, a alienação parental, a intimidação ainda são parte importante de relações doentias que se mantém mesmo com o fim dos namoros, casamentos e uniões estáveis, incendiadas pelo rancor, pelo ódio, pela luta pelo patrimônio. Riquezas construídas com o trabalho da mulher, mesmo quando esse trabalho foi o de cuidar da casa e dos filhos. O desejo de destruição do outro, em geral da mulher, é o processo central desse processo de desumanização.

Nesse processo doentio se desumanizam homens e mulheres na ausência de um modelo restaurativo de solução de conflitos, pois independente de nossos “pecados” e “desvios” continuamos humanos: pais, mães, filhos, filhas, irmãos e irmães, humanos (as), fortes e frágeis.

Marias, Clarices e Karinnys e tantas outras mulheres vítimas da desigualdade de gênero continuam sendo assassinadas, torturadas, ameaçadas, julgadas e tem sua imagem pública e privada destruída quando não mais correspondem as expectativas sociais e sexuais para as quais foram “destinadas”.

Diante de situações práticas como a que acompanhamos recentemente com uma estudante de nossa universidade, percebemos o quanto essa desigualdade se acentua diante de estruturas de poder estabelecidas e o quanto a vulnerabilidade se acentua com a omissão de quem deveria defender o hiposuficente e ao contrário o persegue. Até quando?

Mais que buscar culpados e vinganças, o desejo de restaurar a humanidade perdida pelos seres envolvidos nestas tragédias deveria ser também uma preocupação central do nosso sistema de justiça!!!!

Ana Maria de Barros* é Profa. Adjunta III da UFPE, Coordenadora da Licenciatura Intercultural Indígena da UFPE, Professora do Mestrado em Direitos Humanos CAC- UFPE e Vice- Líder do Grupo de Pesquisa: Educação, Inclusão Social e Direitos Humanos – UFPE/ CNPq.
Fonte: http://marchamulheres.wordpress.com/2014/12/09/entre-marias-clarices-e-karinnys-violencia-e-desigualdade-de-genero/