Até a década de 1970, o termo “travesti” era utilizado no Brasil para designar uma prática eventual: “vou de travesti para o Carnaval”, dizia-se na época. Nos anos 70 e 80, ele passou a nomear um novo tipo de homossexual que transformava seu corpo através do uso de hormônios e da aplicação de silicone com o objetivo de feminizar-se.
Ao mesmo tempo em que surgia como nova personagem, que não apenas se “vestia de mulher”, mas que encarnava uma performance de gênero feminina cotidianamente, a travesti era marcada pelos dispositivos heteronormativos (medicina, ciências psi, meios de comunicação etc.) como sujeito estigmatizado. Tais dispositivos interpretaram a ambiguidade e a prostituição travesti como sinais de estigma.
Desse modo, a travesti transformava-se em risco ao ordenamento do gênero e da cidade. Ao estigma por não habitar a inteligibilidade de gênero, somava-se aquele por partilhar as zonas inóspitas da sociedade, cuja metáfora da noite, como lugar da vivência travesti, mas também do perigo, parece revelar. Quantos/as de nós ainda não continuam associando travesti e disfarce; travesti e prostituição; travesti e criminalidade?
Contudo, as roupas do estigma não são vestidas de modo passivo pelos sujeitos. As travestis costuraram com novas linhas de fuga antigos modelos de masculinidade e de feminilidade, desenhando ainda novos modos de ocupação dos espaços públicos da cidade.
A luta cotidiana de travestis e transexuais contra o preconceito transformou-se, ao longo das últimas décadas, em reivindicação por cidadania, direitos e dignidade. A instituição, em 2004, do dia 29 de janeiro como o Dia Nacional da Visibilidade Trans (travestis e transexual) insere-se nesse contexto histórico-político de emergência do protagonismo trans e de sua batalha contra os discursos estigmatizadores.
eliashistoria@yahoo.com.br
Historiador
Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2015/01/29/noticiasjornalopiniao,3384557/visibilidade-trans-e-luta-contra-o-estigma.shtml
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