10 de setembro de 2014

Dados do Ligue 180 revelam que a violência contra mulheres acontece com frequência e na frente dos filhos

Com a transformação em disque-denúncia, no primeiro semestre, a central enviou mais de 15.000 denúncias para serviços de segurança e do Ministério Público nos Estados brasileiros.

Apesar de ser um crime e grave violação de direitos humanos, a violência contra as mulheres segue vitimando milhares de brasileiras reiteradamente: 77% das mulheres em situação de violência sofrem agressões semanal ou diariamente, conforme revelaram os dados dos atendimentos realizados de janeiro a junho de 2014 pela Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR).

Nos primeiros seis meses do ano, o Ligue 180 realizou 265.351 atendimentos, sendo que as denúncias de violência corresponderam a 11% dos registros – ou seja, foram reportados 30.625 casos. Em 94% deles, o autor da agressão foi o parceiro, ex ou um familiar da vítima. Os dados mostram ainda que violência doméstica também atinge os filhos com frequência: em 64,50% os filhos presenciaram a violência e, em outros 17,73%, além de presenciar, também sofreram agressões.

Os dados mostraram ainda a dimensão dos primeiros impactos da mudança de status do Ligue 180 para disque denúncia: no primeiro semestre, a central enviou mais de 15.000 denúncias para serviços de segurança e do Ministério Público nos Estados brasileiros.

Antes dessa transformação, a Central realizava um trabalho de acolhimento da mulher em situação de violência, orientando sobre direitos e informando sobre os serviços de atendimento mais próximos aos quais ela poderia recorrer. A partir da mudança, em março deste ano, o Ligue passou a acumular as funções anteriores com a tarefa de enviar as denúncias de violência que as usuárias desejarem para os órgãos competentes pela investigação.
Gráfico de Atendimentos do Ligue 180 de janeiro a junho de 2014 - Frequência da violência
Gráfico de Atendimentos do Ligue 180 de janeiro a junho de 2014 - Violência na frente dos filhos
Gráfico de Atendimentos do Ligue 180 de janeiro a junho de 2014 - Relação da vítima com o agressor
Tipos de violência

Entre os tipos de violência informados nos atendimentos realizados pelo Ligue 180, os mais recorrentes foram a violência física (15.541 relatos); seguida pela psicológica (9.849 relatos); moral (3.055 relatos); sexual (886 relatos) e a patrimonial (634 relatos).

Apesar de não estar entre as mais relatadas, a Central considerou o número de denúncias de violência sexual expressivo no 1º semestre, uma vez que os 886 registros correspondem a uma média de 5 denúncias por dia somente por este canal. Quase 70% das violências sexuais registradas foram relatos de estupros (601 casos), seguidos por denúncias de exploração sexual (166 casos). Já os registros de cárcere privado alcançaram uma média diária de 3 denúncias e também chamam atenção, segundo o relatório do Ligue 180.
Gráfico de Atendimentos do Ligue 180 de janeiro a junho de 2014 - Tipos de violência relatada
O feminicídio – quando há o assassinato de mulheres em condição violenta e relacionado a sua condição de mulher na sociedade – também apareceu nos atendimentos realizados pela central telefônica, que indicaram a ocorrência de, ao menos, 176 homicídios tentados e 49 homicídios de mulheres consumados somente entre janeiro e junho – dados que alertam para a necessidade de aprovação da proposta legislativa que tramita no Congresso Nacional para criar uma tipificação penal específica para este crime, tirando o problema da invisibilidade (saiba mais).

Campanha estimula denúncia


A campanha “Violência contra as Mulheres – Eu ligo”, segundo a Central, estimulou a denúncia pelo canal. Veiculada de 25 de maio a 05 de julho para divulgar a existência e as funcionalidades do Ligue 180, de acordo com a SPM-PR, a campanha surtiu grande impacto no número de ligações recebidas: no período de divulgação foram recebidas 8.000 ligações a mais por dia e somente em junho a central enviou quase o mesmo volume de denúncia dos últimos 5 meses. O número de atendimentos realizados aumentou em 36% e houve um aumento de 52% dos relatos de violência registrados.

Os números revelam a importância de canais de informação para o rompimento do ciclo de violência pela própria vítima ou pessoa próxima. Nessa frente, juntamente com a campanha, foi lançado o “CLIQUE 180”, um aplicativo gratuito para telefone celular que oferece informações sobre a violência contras as mulheres (seu conteúdo também pode ser acessado pelo site:clique180.org.br).

Importância do acesso a serviços de segurança, justiça e acolhimento

Além da demanda por informações, também foi detectada a importância do acesso a direitos e a serviços de acolhimento e Justiça para coibir a violência contra as mulheres: entre os 265.351 atendimentos realizados pelo Ligue 180 na primeira metade do ano, 33% foram referentes a ligações para solicitar informação sobre leis, serviços de atendimento à mulher, campanhas, direitos da mulher, entre outros.

Dentre as informações buscadas sobre a Rede de Serviços e Atendimento à Mulher, a Defensoria Pública foi o serviço mais procurado, comprovando a necessidade de acesso das demandantes do Ligue 180 à Justiça. As Casas Abrigo aparecem em segundo lugar, indicando alto risco da situação de violência em que as demandantes se encontram, de acordo com a Central de Atendimento.


No período, a Central realizou 41.171 encaminhamentos para esses serviços, sendo os mais frequentes: as Delegacias da Mulher (15.307 casos), os Centros de Referência (11.159 casos) e as Defensorias Públicas (5.927) gerais.

Por Débora Prado
Portal Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha

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