“Mulheres que Correm como Lobos”, da Clarissa Pinkola Estes, me foi presenteado por Renée, num dos raros encontros que tivemos, por alguma razão que não lembro. Talvez nem houvesse motivo para isso. Talvez só faça sentido agora, após sua silenciosa partida. Ainda vou descobrir.
Diz a autora do livro que “lobas e mulheres saudáveis têm certas características psíquicas em comum: percepção aguçada, espírito brincalhão e uma elevada capacidade para a devoção”. “São gregárias por natureza, curiosas, dotadas de grande resistência e força”. Produtivamente intuitivas, determinadas, corajosas e amorosas. E, tendo a alma selvagem, “respeitam seus ciclos de vida, o seu lado mais primitivo, a sua espiritualidade”. Também são capazes de enfrentar seus próprios medos e sobreviver às suas próprias fantasias infantis acerca dos relacionamentos e da maternidade. Mas alerta: “as raízes femininas mais interiores – a intuição e a criatividade – estão sendo trocadas por moedas de menor valor”.
Como contraponto, transcrevo a declaração de Shakira: “La Loba, is La mujer de nuestro tempo... La mujer que sabe que quiere y ES libre de prejuicios y nociones preconcebidas... que defientes como um animal selvaje”.
É evidente que a mulher deixou de ser a Chapeuzinho Vermelho. Já não foge do lobo mau. E nem mesmo a vovó é a mesma. Ao invés de ficar esperando por bolinhos de chuva na cama, vai à luta, chova ou faça sol. A mulher do século XXI tem consciência de que faz parte da matilha e se arvora para ampliar seu território.
Mas nem por isso nossas ancestrais são menos lobas. Os caminhos que hoje percorremos já foram trilhas íngremes, abertas por elas a facão. E, embora atreladas ao universo masculino, marcam seu espaço parindo e cuidando dos seus filhotes por anos a fio, até o relógio biológico anunciar o fim da vida fértil. E resistiram bravamente ao trabalho a que eram submetidas, sem pôr em risco a alma feminina, selvagem na essência.
Lobas estão em todo lugar: nas escolas, nas fabricas, nos elevadores, nos escritórios, nas estradas, em casa, nas igrejas, nas quadras, nos campos, no chão, no as, no mar... e, mais recentemente, em altos patamares da política. Estão ai a presidente Dilma, suas ministras sociais e sua chefe de gabinete que, por sinal, acabou de substituir um homem. Estão ai Tarja Halonen, da Finlândia; Mary McAleese, da Irlanda; Cristina Kichner, da argentina; Pratibha Patil, da Índia; Dália Grybauskaite, da Lituânia; Dóris Leutheard, da Suíça; Ellen Johnson Sirleaf, da Libéria; Laura Chinchilla, da Costa Rica; Ângela Merkel, da Alemanha; Cheija Hasina Wajed, de Bangladesh; Johanna Sigurdardottir, da Islândia; Jadranka Kosor, da Croácia; Yulia Timoshenko, da Ucrânia.
Lobas não buscam o enfrentamento. Elas correm ao lado dos lobos, perseguindo seus sonhos, embaladas mais pelos sentimentos do que pela razão. Lobas convivem com lobos. Não com coiotes, cachorros e chacais.
Escrito por: Denise da Ré
Publicado: Jornal Semanário
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